20.4.12

sozinhos

em muitos anos de busca / a nossa, entre as galáxias, possui cinquenta milhões de estrelas / e em nenhuma delas.

Logo buscamos noutras, queremos, e o espaço nos devolve o silêncio / do qual (um pensa) jamais deveríamos ter saído.

O astrônomo, esperançoso e entediado, começa seu turno em frente ao telescópio que foi criado por nós para que nunca se canse. Já leva milhares de gerações olhando um horizonte distante, captando ondas de rádio que quebram na nossa orla sem mensagens, vestígios. Na noite mais escura que a noite, nosso intrépido astrônomo se concentra, emboscada, silêncio, o coração lhe estoura os ouvidos. O astrônomo dorme.

Em seus sonhos, uma visita estranha aparece. Tem olhos grandes e escuros e uma pele muito clara, braços longos e ao tocá-la o astrônomo encontra: sua mãe moribunda, de seios e olhar secos, orbitando pela morte.

Ele acorda assustado, quase sempre de tristeza. É um mistério por que as mães seguem existindo, e ficam tendo filhos, parindo-os pelo mundo, se a história é uma sucessão de filhos mortos, e aí ele limpa os óculos e encara o nada doce além da lente, telescópio, estrelas que são sóis e pedras que se movem ao redor delas, cadê a vida, se pergunta

Imagine que uma noite o alarme apita. Num sobressalto, sem mãe que o acompanhe, o astrônomo confere os aparelhos e põe esforços nas coordenadas indicadas. Pulsar, calor, e move-se alternando ritmo e tropeço, querido estranho, depois de tanto tempo! Seu corpo se estira na poltrona de cientista, olhos vidrados nas ampliações de vídeo e rádio...

Numa pedra muito longe, quem sabe se coberto por qual atmosfera, um ser vivo nunca visto por humanos sente que está sendo observado. (Eu espero que o universo se canse de mim e me abandone antes que tudo isto aconteça). Com medo ou raiva afeto fome ou falta de vontade, esse ser estanca um momento / qualquer forma de movimento. Pra logo após (longe está das nossas lágrimas de emoção e das melhores intenções) debandar / correr talvez pro passado. O astrônomo se esquece.

É no passado que você se esconde.

13.4.12