16.12.10

volta

demorei mais tempo entre Guarulhos e o Butantã do que entre Montevidéu e São Paulo. Parados por horas num ônibus na avenida Paulista, eu e a Andrea atravessamos as luzes feias e barulhentas do natal, centro comercial do país, e eu vi que mesmo assim é mais fácil chegar onde você já conhece, parece que eu nem fui, só o mercado da esquina é que mudou de dono e a Andrea pôs mechas vermelhas no cabelo, eu emagreci um pouco, se me perguntam eu não sei o que dizer, gaguejo os clichês da cidade longe, não tirei fotos, não comprei lembranças, me sinto um lago que guardou a viagem no fundo, um tesouro perdido dos ladrões. Fui numa cigana que me disse pra parar de falar de mim com as pessoas, ela disse "não diga eu penso, eu faço, eu quero, diga o dia está lindo, faz frio". O avião veio do azul e desceu pela massa folhada das nuvens, chão branco, depois chão branco céu branco e fina linha azul de horizonte, e foi descendo em círculos sobre o aeroporto até chegar no céu cinza de São Paulo, no chão falado em português, nas filas da gente que chega, e agora chove.

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