A caixa do correio está vazia. E, se ela volta, de novo está vazia. Mas não nesta manhã: acorda com certeza, avisa a si mesma que deve descer as escadas do jardim, o mato chega-lhe às canelas, e quando alcança o portão já se passaram vinte minutos de lento caminhar, os dedos tremem na portinhola agarram o envelope leem a catarata, papel, mas não: de novo está vazia. virá um filho, um dos maridos, a morte mesma pode vir: na forma de um carteiro que chega ao seu portão, confere ausência de remetente na bolsa e declina da casa, desinteressado. Ela caminha de volta pelo jardim, pela porta, a bexiga solta esparrama urina até o lavabo, ela troca de calcinha e de saiote e come um pão com margarina que enche o estômago feito terra no vaso.
À tarde, fica quieta, sozinha. Parece uma batata brotada.
Mas ó: o melodrama é todo teu. Porque de repente ela ouve um barulho lá fora, olha rápido pela janela a tempo de ver as calças azuis do carteiro escapando pelo canto da rua. E se eu te disser que mais quinze minutos de passo apressado e ela está lá, além do jardim, abre a caixa de correio e vê admirada: está vazia. Não, é mentira. A gente que se agrade com o vazio o quanto quiser. A dela agora sim, porque cheias estão suas mãos: um envelope pequeno que ela abre com dificuldade de quem não quer rasgar. Precioso é o que a gente recebe dos outros, fique velha e não se esqueça. De ter alegria quando apertar os olhos sentada no sofá e cheirando à urina reconhecer duas palavras estrangeiras, tua língua, teu amor,
"Minha querida,"
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