todas as dores
igual cristo
é essa a imitação?
mas jesus ficou faltando
algumas dúzias de flagelo.
a gente inventa
vidas que não tem
só pra ser outras pessoas
e outras dores também.
se eu sou jesus, a chicotada,
me furam a costela,
cravam os espinhos
e o sangue que escorre
da testa sobre os olhos
arde igual suor.
o que mais dói é o abandono:
chego a duvidar de mim. já que triuno.
e digo "eu, eu. por que me abandonei?"
de outra forma não vou saber
já que eu não me abandono,
sou muito assíduo.
mas, se eu sou jesus, eu sei.
assim a gente expurga o conforto,
se a gente é bem cristão e acha que não merece o conforto.
o papa se aproveita
da guerra na terra e entre as pessoas
de boa vontade, amor ao próximo,
próximo.
assim eu morro todo dia.
de abandono, de tiro, desinteria.
mas, ah, eu amo também.
amor e morte, nessa ordem.
de todos os jeitos possíveis,
a maioria é indecente, mas
as histórias me permitem. alguns
até são crime: eu posso. imagine
o amor de jesus.
com o meu corpo, escrevo
uma história paralela. real
e de pouco interesse, porque já sei,
enquanto acontece, tudo o que se vai
passando nela. a gente vive
pra dar chance de este mundo
imaginar coisas diferentes. vai que
jesus um dia quer
imaginar outras coisas, outros amores.
ele vai pensar em mim, sentado
de camisa vermelha, trabalhando
em buenos aires, numa tarde de
janeiro
26.1.12
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