31.5.10

o búfalo. ensaio para o búfalo

quem tem um corpo tem um tesouro: desagrados matinais, dores certas, a vontade lambida, com cheiro e com gosto. os corpos se entendem. passo na frente de um prédio chamado CLIMAX e ele parece abandonado, tem na frente o busto esculpido de um homem careca. repito: um prédio chamado clímax. penso em encanamentos misteriosos vazando e retendo água e esgoto. minhas pernas mais bambas que o mezanino. as ruas têm nomes de pessoas. Acho que se você exaure o seu corpo no corpo de outro, sem paredes, o torpor que te toma depois é uma espécie de sinceridade doce e desatenta, eu virei um copo d'água. me beba. e acho bonito isso que dei de pensar agora: que a memória é coberta por pele.

As árvores são como células de um grande corpo indistinto, um embrião absoluto, o que uma sente, assim todas as outras. Elas não são espíritos primitivos. Elas são muito antigas e muito novas. as células do nosso corpo também vivem. O mundo é matéria e energia, ambos a mesma coisa.

Eu quero ser sua árvore.

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