ideia editorial, fazer
um road book, diários
de bater perna
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as ruas são largas idem
as calçadas com árvores
simétricas a violência da
cidade é essa, quanta gente
escorreu pra gente ter agora essa lisura de caminhos,
um monte de brasileiros de mapa aberto,
falando português como se não existisse outro idioma.
os argentinos respondem sem sorrir, pacientes,
eu tento falar um castelhano sucinto porque fico com vergonha de ser confundido com os brasileiros
ontem passei a tarde toda tentando escrever uma história uma carta sem raiz ou antes: de uma raiz aérea, que se desprenda e grude em outro canto pra não ter passado, uma vida sem origem, sem ato inaugural. mas ando demais por aqui, as ruas são muito agradáveis, quando chego num lugar é porque meus pés tomam toda a atenção.
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diário de viagem.
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coincidência que estou lendo um livro do Ricardo Piglia, que é argentino. A coincidência é essa. o livro se chama "Prisão perpétua". Explico pra menina inglesa que é a história das histórias que a gente inventa/escolhe/é escolhido pra viver, e não sai mais delas, porque a narrativa é uma armadilha também. Explico num inglês meia-boca. A menina diz "sounds very interesting" e come outra pão com doce de leite. "Oh my god" pro doce de leite, que ela não conhecia. Do livro depois eu conto mais. A inglesa foi embora e ontem eu encontrei uma livraria cuja especialidade são livros de editoras independentes. O moço da livraria é um argentino cabeludo que morou em Santa Catarina e ficava surfando por lá. Disse que montou uma biblioteca na cidadezinha, mas quando voltou pra Argentina se desfez de todos os livros. Como eu não entendi o que ele disse (se vendeu, se doou os livros) me dei o direito de imaginar a cena, coisa que faço com frequência, ainda mais se tratando de língua estrangeira:
Ondas marés estantes volumes na praia, sendo levados.
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Eu poderia ficar escrevendo o dia inteiro.
6.9.10
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