minha nossa senhora da postergação me
deu por insistência e atraso virginiano
uma agenda eletrônica quando eu tinha
catorze anos
todo ano, aliás, alguém me dava uma agenda
minha mãe tirava sarro "agora vai poder anotar
todos os compromissos", insinuando que eu
não tinha nenhum
não tinha mesmo. nossa senhora da postergação,
protetora ainda na infância de catecismo protestante,
nunca me abandona.
na primeira série todo mundo fazia dever de
casa, menos eu, que fingia ter feito e
por causa dos óculos (sempre pensei) ninguém
desconfiava.
o astrólogo me explica que é bem coisa de libra
essa languidez atrasada, abrir o blogue pra escrever
quando todos se perguntam "onde está?" e o celular,
ai o celular.
que os patrões não me ouçam. nossa senhora da
postergação me abraça gorda e condescendente,
eu me escondo no manto em que está envolta e finjo
que a agenda não é mais importante que o sol,
a morte, o toque nas partes íntimas
e o tempo presente
5.5.11
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gorda nossa senhora, dai-me um colchão rente
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