Pra que não restasse dúvida: aquele era um gato antes do gato. Orelhas compridos bigodes, a língua na pata. Mas não me dava o amor que eu queria. ("Eu", fique bem claro, sou qualquer pessoa que não eu). Dei-lhe tanto tempo quanto julguei necessário, possível, permitido. E, como o gato tinha mais eu que eu próprio, ele não veio a mim, nem eu consegui chegar a ele. Por isso resolvi matá-lo.
(esta é uma história cheia de conclusões lógicas. vejamos)
não imagine crueldades sanguinárias. eu não queria ouvir barulho, muito menos assustar os vizinhos. Eu só quero amor. Pus o gato no forno e abri o gás. Ele quis miar mais alto, mas logo adormeceu e sufocou. Percebi que aquele gato não deu certo como amigo, muito menos para afastar a melancolia.
Continuo esperando o gato realmente gato. Quero dizer: aquele que não fique um passo distante. No sentido de: um gato que, num pulo, me salve de mim. (Os animais são os únicos que amam com sinceridade. não pedem nada em troca). Quero dizer: esperando não é o termo certo. Estudo possibilidades, já penso em qual escolha, entre pássaros, peixes, cães e cágados. Examino os pet shops com a pressa de um faminto, mas a meticulosidade de um espião. Afinal, o meu amor pelo mascote também será incondicional. E sincero, e completo. Seremos nós a mãe um do outro. Aperto as notas de dinheiro no bolso, promessa de um futuro lindo. E tenho as mãos suadas, trêmulas, ávidas. Esperançosas.
3.9.11
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