estou escrevendo a história de uma pessoa que não tem braço.
não, assim: a pessoa tem braço, mas esquece como usá-lo.
fico pensando que é muito trágico a pessoa não perceber mais o óbvio das coisas, o automático, somos muito automáticos.
não consigo escrever a história porque, para escrever, uso meus braços. e a história é inspirada em mim. nas vezes em que eu não sei mais o que é ter um braço.
tento me proteger na história.
será um fracasso absoluto se, em vez de viver o escritor, eu começar a viver o personagem. será um erro de cálculo. será um planejamento muito falho. me parece impossível que eu planeje tão falhamente assim.
mas olho meu braço e penso: o impossível será impossível?
penso: ninguém vai me salvar. e: eu [sozinho].
no dia a dia, esqueço como ter muitas coisas. isso aqui é só uma história. olho a parede. o problema é que às vezes eu não consigo pensar: parede. eu retrocedo para o fragmentado da parede.
percebo que a gente só sobrevive no atomizado.
palpito que qualquer desvio é muitíssimo perigoso. eu quase tenho medo. mas tenho uma certeza de razão muito grande.
o problema é se essa certeza de razão já for indício de a pessoa estar variando das ideias.
o braço só vai ser um problema depois que eu parar de escrever. enquanto escrevo, é porque o braço ainda existe. em mim.
e as palavras. denota que eu tenho um pressuposto. o pressuposto não oferece perigo.
isso aqui é o ensaio de uma história. estou escrevendo um romance e vou ser um grande escritor. ai meu braço. MEU BRAÇO. quando eu precisar saber usá-lo, aí será problema.
será que eu já morri?
20.1.11
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Marcos! quantos textos já podei lá na minha coluna, quando começo a falar sobre meus contos e personagens, achando que é meio idiota, presunção, sobre algo que nem sei se irá nascer. Mas de repente me vejo espelhado nesse blog, e o que vi é muito bonito!
ResponderExcluircomo é bom saber a forma que você se locomove nas suas idéias. lindo! bjones!