achar o caminho das coisas
ele faz faxina no walmart à noite. quer ser escritor de histórias de vampiro, com quinze anos já anunciava no ônibus, quando fazia uma amizade: estou escrevendo um livro. um menino muito inteligente. deixou de acreditar em deus porque pensou assim "não tem lógica", pois passou a acreditar na lógica e também prezava a coerência. gostava de ler, mas lhe dava sono e não gostava de deixar capítulos pela metade, então só lia quando podia terminar o capítulo na mesma sentada, ou começava tudo de novo na próxima vez, dali a duas semanas, às vezes meses.
agora passa pano no corredor das guloseimas. quando a gente vê uma coisa todo dia, perde a vontade.
(eu tento achar o meu caminho me perdendo no caminho dos outros. andar quando não se anda)
se a questão é de sobrevivência, não há espaço para que se exija qualidade. vai dizer assim: é certo que ele escreve mal, nunca passa da primeira página e mesmo isso, se alguém sem admiração desse de ler, o que eu não quero é ser cruel e dizer "esse aí merece a vassoura que tem", mas é o que pensariam e ele nunca vai chegar às prateleiras. também, é certo, só o que quer é a fama. não é porque a pessoa está sobrevivendo que ela se torna um exemplo a ser seguido, vamos combinar! ele não merece esse peso. eu seria seu amigo desde que ele não me enchesse a paciência. se trabalhássemos juntos no walmart eu teria carinho e chamava logo pra sacanagem longe das câmeras, só assim que sei fazer.
secretamente, eu também quero escrever histórias de vampiros. mas chamo de humildade a resignação e hoje, pela primeira vez na vida, perdi todo o interesse por quaisquer livros. fui arrumar a minha estante e me deparei com o excesso imóvel dos livros. desconfio que se eu pegasse uma vassoura. ela me mereceria e o quarto seria limpo como é certo ser. a escrita é demasiado leve. ó, capitalismo, me proteja do que me leva de mim.
16.1.11
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que frequência ótima tem esse texto... do começo ao fim.
ResponderExcluirum mini-a hora da estrela. hahahaah fui mal.
você não vem????