no verão vamos estudar a língua dos mandarins
em que coração se escreve aos traços oco órgão
e da palavra gente deriva grande, depois céu
vamos também cavar nas intenções um gole de presença
a boca seca do asfalto me leva cheio de carnes
pra um futuro desossado, sem alegria
por isso urge que bebamos, cairmos, idiomas
sinceros e cheios de sílabas que se aglutinam
formam palavras, que se aglutinam e formam
cartas, que se aglutinam e formam
pessoas, neste revés estúpido da língua chinesa,
aqui pessoa é o mais derivado
e quer ser barco, ou fogo nas frotas das emoções
bicho da terra tão pequeno, neste verão
aprenderemos que se tomas
duma caneta e dás dois traços à superfície mais próxima
e limpa, aí já te disseste, és tão presente e
miúdo e verdade e cantado quanto esse idioma que há
cinco mil anos se criou para que poucos,
hoje bilhões,
pudessem dizê-lo.
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