13.10.10

escrevi uma carta chamada rancor

*

aí percebi a ficçao dos destinatários
mandei cartoes postais como quem dorme
e no sonho percebe que sonha
e nao sabe se o sonho do sonho é outro sonho

*

nota de método: só escrevo quando nao entendo.

escrever é um jeito de entender.

quando entender nao for mais importante.

nao isso de vida e morte, esses porquês.

o que eu nao entendo é o vácuo do universo.

hoje formulei uma proposta: de que o vácuo vai ser preenchido
pela vontade falha das estrelas
que vao crescer até tomar tudo
fazer luz infinita.

luz infinita é a imagem de Deus na Divina Comédia.
eu nunca consegui ler o Paraíso
que é só luz e fica mais chatinho,
ou entao será algo da idade e da subjetivaçao burguesa
ir aos poucos e nao ter olhos pra além do castigo.

planos de fuga do castigo.

o que os cantores chamam baby.

*

e tenho descoberto muitas coisas,
como por exemplo que os índios raptavam as brancas
e no deserto dos pampas rasgavam-lhes as solas dos pés
pra que nao fugissem.

*

depois acabei concluindo que nao mandei a carta.
hoje eu acordei de um jeito que nao vai interessar pra ninguém.
nos pampas declamando às vacas versos longos e ressentidos.
estou lendo toda a literatura argentina e vou sair daqui melhor do que entrei.
isso aqui é um diário.
oi pra você.
vou contar outra história:
da cordilheira que se formou com fúria
veloz no tempo geológico
humanos nao viram ela crescendo
acho que o ser vivo que mais vive é uma árvores que esqueci o nome
e chega a quinhentos anos ou mais
a professora da terceira série mostrando
eu tinha muito amor pelas árvores, fiquei imaginando
as linhas dos troncos
contando a história do mundo
sem palavras.

agora outra história:
era uma vez o deserto
e o mar
e as outras coisas
e as elipses em volta do fogo
e a gente
e os correios que a gente inventou
pra escrever pra quem tá perto
e o deserto,

Um comentário: