novembro

a viagem morreu.
estertorava no trem, veio um vigia e perguntou
o que tinha se precisava de ajuda. orgulhosa,
ela foi ao banheiro e se deixou ficar.
se ninguém se der conta, e se o trem for
dragao, a viagem clandestina e ignorante vai
sem trilhos nuvens por aí, perdido o passaporte

a família chorando no jornal nacional
com foto e violinos
diz "ela sumiu no universo"
as maes do mundo deveriam aprender que o universo
é negro e draga toda luz, é túnel e leva
toda luz pra olhos que ninguém aqui conhece

tenho medo dos olhos que veem. arrumo o pinto
na calça e enrubesço. mas pra falar da viagem
melhor em terceira pessoa: que ela tomou muito calmante
e está dormindo até agora. a viagem no rehab,
que a viagem anda em voltas sem dar conta.

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2010 está acabando. logo mais, o obituário do ano findo. mas agora ele està vivo, igual a gente.