24.4.11

A gente achou que ia ser legal, daqui da praia, fotografar as plataformas de petróleo lá distantes, não tanto, passamos o dia procurando. A minha mãe estava deitada, torrando ao sol. Não era minha mãe, mas eu queria que fosse. Tenho dez anos de idade e uma câmera na mão. Estou sozinho, somos muitos. Despistava as pegadas na areia, ninguém me pega, um walkman no último conta pro mundo que nada ficou no lugar, que ela quer quebrar essas xícaras, que queria falar minha língua, olho o mar

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se toda a água fosse doce. A principal atividade econômica no país foi por séculos o cultivo de cana-de-açúcar, escravos moíam e da garapa refinavam vinha um branco de brilho e afeto nas revistas femininas nos comerciais de margarina. A presidenta anunciou que agora o Brasil exportará petróleo. E do fundo branco do horizonte / plataforma que eu não vejo / um óleo preto mais que a noite

Ninguém tem culpa pelo combustível fóssil. Minha mãe passa um óleo claro nos ombros e baixa as alças. Com a bunda simulo a pegada de um dinossauro muito rude, clico, sigo procurando.

Resolvi escrever um livro de poesias. Entro na água e faço pose de contracapa. Outra onda. No fim do texto vou aparecer sem fôlego na borda e lábios de homem me buscarão. Minha mãe, passado o susto, vai ralhar comigo, vai vestir o biquíni e vamos pra casa. Tenho mais muito o que viver. "Hoje quase morri", escrevo no diário. Com a imaginação que teria uma plataforma de petróleo, se escrevesse.

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