6.6.11

o desejo roça feito unha de gato, ronrona nas pernas depois crava, você dá um grito e pode dar um tapa, depois à noite pensa "nossa como doeu", é muito gostoso o desejo, cintila e amassa e quando acaba me deixa esse pedaço de sucata, homens rudes me remexem no ferro-velho das paixões, o desejo é tão gostoso é uma piscina na infância do verão, eu menino um rapaz de vinte anos brincava de me afogar, agarrado às pernas dele, depois me apertava contra o peito e eu com água nas narinas, o desejo é uma delícia, principalmente quando não tomou banho, te pega de surpresa e ninguém tem tempo de se preparar, você é um corpo sujo a caminho da morte e o desejo te intercepta, é impossível escrever nesses momentos de desejo, mesmo pensar é bem difícil, todas as campanhas mandam a gente usar camisinha mas o desejo vem do tempo das cavernas, é um primata estrangeiro ao nosso tempo, a gente pega o vírus e morre porque o desejo leva sempre à morte, o futuro dele é um fosso sem desejo, a queda desde o pico, não quer planalto, não quer planície, as religiões sabem disso, a medicina é uma imensa religião, agora é outono no hemisfério sul, eu tenho frio e um fiasco de desejo, uma delícia, não obedece, e quando eu resto fora dele abandonado, se só tenho na memória e não há nada o que fazer, não me arrependo, só te busco, desejo, não faz mal que não me quer

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