31.5.09

Peste

Todos aguardam ansiosos a confirmação da OMS: hoje, morreram trinta. E em cada lóbulo de orelha há a inveja de que o número há de aumentar.

28.5.09

Nasce

Forra os trapos de manhã.

Acabou produto

1.
Will you take me as I am? (Joni Mitchell canta). Este é um projeto para viver sem projeto. Não, tou brincando, na verdade é uma coisa bem intimista e afásica, só projeção. De te pensar um destinatário oculto, como se o meu não fosse visível, ah será esta uma tardia adolescência de emoções? Não, isso aqui é intervalo.

2.
Que essa prosa não dê prémio.

25.5.09

Romântica

Cada vez que ouço seus passos / o que sinto são as solas no meu púbis expandido. / Amor perdido / o de pele surda. E eu não quero ninguém mais. Quando penso em você, eu me toco a mim.

22.5.09

Azzurra

É um asno pronto pra lua. Mastiga de olhos úmidos e se inclinasse a cabeça um pouco mais pra cima... Não sou eu, são as minhas articulações. Esse coxo de visão. Mas nunca deixa de imaginá-la / na saliva

20.5.09

Fóssil fácil

Ele dormiu sob as árvores e 47 milhões de anos depois disseram: eis aqui o elo perdido dos primatas!

19.5.09

Ninhagem

Fico imaginando as feições dos nossos filhos. Serão improváveis como passarinhos de estrelas. E no domingo é a gente cozinhando a maminha pra levar pra casa da avó.

18.5.09

O espaço povoado

As galáxias quase-colidem. O silêncio eterno desses espaços infinitos (...). Eu quero nascer pêra.

16.5.09

Benzinho eu ando pirado

Dia de sair, todo mundo vai ficar em casa. B., lembra aquele papo de noites de sábado, euforia do fora? Leio um poema, vontade louca de ser hermético feito embalado a vácuo. "silêncio tudo aquilo que do meu coração não parte". A Júlia me deu um livro do Al Berto que é só de viagens. Prefiro ficar com a beleza pra mim: guardo o livro no fundo da estante e essa noite lerei um romance policial em que o mistério são flores enviadas sem remetente. Abarcam minha sede de sangue.

Isso aqui é uma carta pra ninguém. Mas se você me ler e me quiser, não jogo duro com o coração. O atlas ficou pra trás. De todos os caminhos abertos.

Receita

Estive dengosa. Me mexe com creme. E se você estiver bem meu nome é no ponto, suspiro.

15.5.09

Quente com veneno

Queridx,

dessa vez não vou escrever. Antes de você ler isso já vou ter tocado a campainha. Me atenda.

Todx vossx

X.

12.5.09

Acabou chorare

Nem que fosse ruim, impalatável ao gosto de literatxs, meu livro pronto é um beijo pra quem vos quero. Júlia, me ensinou esse amor. Da coisa em páginas e validade só do afeto. Cantos de estima. Todo mundo deveria fazer o seu. Já já te dou.

11.5.09

Faxina

Eu costumava deixar os lençóis na cama, sem trocá-los, pra lembrança de sêmen. Mas quem começou a me comer foram os ácaros.

8.5.09

Singra

Eram estranhos, tenuamente ligados por um cadáver.
(Carl Sagan, Contato
)

Nenhuma cama por piscina. Passou foi a noite inteira nadando de lá pra cá, uma rua sobre a outra, sem sincronia. Amor afogado.

7.5.09

Amor pro mar

Cada homem é uma ilha. Pois agora eu sou mulher, veja bem, há hormônios que não se pode ver. E toda mulher vai ser península.

6.5.09

História da Xuxa

A Xuxa corria de um lado pro outro no palco. Tinha umas cinquenta crianças ali perto achando que iam entrar no disco voador. Elas brincavam de bola e tinha muito espaço e beijinhos. O estádio, de resto, lotaaaaaaado. Lá longe a Xuxa era um nervoso ponto loiro de botinas. E quando ela subiu e foi embora foi quase um sonho

3.5.09

When you wish upon a star

Daruma, um olho só pintado. O outro é pro desejo realizado. Daruma monstro de gesso fica aqui me olhando, dizendo à minha moda, tal qual fosse: não pude / não pude / não pude

Amor cachorro

O menino era bonito, nunca que eu ia esperar. Chegou chegando, virilha azeda, tapa na cara, curtia dogtraining. Não me deixava beijar parte alguma, só lamber. E, quando eu mordi, levei uma surra que era pra aprender.

2.5.09

Alvora

Os olhos ardiam toda vez que ela olhava. Mar, mais grande que a palavra. É agora que você afunda, vai anoitecendo e as ondas deixam de ofuscar, mar sereno para a lua. Cada estrela cadente é um tchibum e novo pedido. Sempre o mesmo: "que sim, que sim, que sim".