19.4.10

variações

um frango morto. sobre a mesa. feito as lhamas do outro dia, defumados os fetinhos.

, frango morto é de uma solidão. a mãe enfia os miúdos de volta, em farofa, pelo cu. se eu tivesse um frango morto aqui, não ficava de metáfora: assava logo com batatas. se eu tivesse batatas aqui, nem dizia "batatas". ou dizia de boca cheia.

batata era um apelido pra todos os homens da família, que éramos todos gordos.

no churrasco na casa do meu tio, ele brincava de abaixar as nossas calças. depois teve uma história mal explicada de que ele abaixou as calças do caçula. nunca conversamos.

num trabalho de faculdade eu escrevi uma história em que o meu avô, que morreu na véspera de natal, se transformava num peru pronto e sem netos sobre a mesa. o tema da redação era "minhas férias" e a professora escreveu: é difícil dar uma nota. mas deu. eu deveria reescrever mais atento à ortografia. era um trabalho da disciplina de língua italiana.

semana passada eu brindei aos mortos no império chinês do século dezesseis. faço essas coisas espontaneamente, quase nunca é pose. saturno me rege desde escorpião, se isso for uma desculpa.

gosto muito de lasanha.

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