23.12.10

são paulo é uma cidade vista do alto
se você não está embaixo

caso contrário caralhos grandes sobem igual floresta e cada passo é um "sim" pro vírus do hiv
uma porta, um sim
um semáforo, um sim
pensei em dizer agora: esse perigo cru e gostoso

perdi toda a poesia

saí pra andar na rua cheio de doenças futuras
são paulo em um milhão de anos
nem ruínas do podium de interlagos
sem os sons da velocidade
e nada restado
nem meu diário
os meus afetos se dissipam, passa o tempo
espero que deem genes sem vírus e o amor urgente seja
um daqueles cometas fugazes mas que voltam a cada
geração resvalam mesmo com nuvens, sem serem vistos,
na expectativa da gente que busca um fio de luz na noite,
novidade

a cidade engole minhas pegadas
não estou me lamentando
embora a pose
mas me parece muito justo
este agora inteiro
em troca do tempo,
derradeiro

com a segunda maior frota urbana de helicópteros do mundo
e prédios lotados de páginas a serem revisadas descartadas e impressas
eu me sinto inútil e protegido
dos monstros
por uma cidade que não me quer
indiferente o bastante pra ser mãe

e escrevo cada palavra com o cuidado de quem planta
chão de sal grosso e ouro que se racha
bosques prados pequenos vasos apartamento,
queimada

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