6.7.11

afeto a besta fera

animal nenhum que
eu saiba deixa de reivindicar
a paternidade, vi agora a foto de um escorpião
mãe com seus filhos, expliquei pro francês
escorpión es el animal que mata con el culo
os filhotes todos nas costas
protegidos pelo rabo perigoso
vejamos


essa pressa de amor que
tem a gente pode então ser um resquício da proteção, que é inerente
onde foi que eu li que o que nos diferencia dos outros animais é a falta de umas células no cérebro que não nos deixa ter instinto?

inibe o instinto

e aí a gente tem que aprender tudo de novo, sempre, desde o começo
o cavalo nasce trotando
o urso nasce ursando
o escorpião nasce amando

e eu nasço / nascendo
só sei nascer

- também, de se considerar, que é particularmente moderna e burguesa a concepção do humano como débil. e cristã, também. não pode subestimar o cristão, essa peste -

quando eu amo, percebo, quero abrigar
e nunca fui mãe

(aprendizado emocional pelas palavras)

a gente estava sentado na rua numa noite e vimos uma ARANHA enorme próxima se esgueirando na parede. eu anos depois sofri um ataque homofóbico envolvendo aranhas terríveis, um pequeno trauma, no conceito psicanalítico, se é que a psicanálise admite dimensionar um trauma. pois bem. mas já tinha medo de aranhas. o alexandre, que era o menino mais bonito e malandro da rua, e muito meu amigo, matou o bicho

do corpo da aranha, espantados, vimos surgir uma nuvem rasteira
de filhos

e todos correram pra suas casas
buscar o inseticida.

ontem eu li uma frase
"somos todos ateus com os deuses dos outros"

e anteontem uma amiga postou o seguinte texto no facebook

O grande escritor grego Nikos Kazantzakis conta que, quando criança, reparou num casulo preso a uma árvore, onde uma borboleta preparava-se para nascer. Esperou algum tempo, mas - como estava demorando muito - resolveu esquentar o casulo com seu hálito; a borboleta terminou saindo, mas suas asas ainda estavam presas, e morreu pouco tempo depois. "Era necessária uma paciente maturação feita pelo sol, e eu não soube esperar", diz Kazantzakis. "Aquele pequeno cadáver é, até hoje, um dos maiores pesos que tenho na consciência. Mas foi ele que me fez entender o que é um verdadeiro pecado mortal: forçar as grandes leis do universo. É preciso paciência, aguardar a hora certa, e seguir com confiança o ritmo que Deus escolheu para nossa vida".

("bicho da terra tão pequeno"...)

Um comentário:

  1. essa imagem me perturba.

    a imagem da nuvem rasteira no texto também me perturba.

    brancura nociva me perturba.

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