amarra as trouxinhas, tudo num pano ~ pasta de dente que refresca e dá gosto, bibelozinhos da saudade, um pedaço de pão. seria uma senhorinha fugitiva, velha nas ideias, decidida. mas tem um metro e oitenta e cinco e nunca passou um dia de sua vida sem banho quente. os prazeres que valem são os menores. esta história é inverossímil. ele fecha a porta do apartamento, deixa a chave do lado de fora, veste uma roupa qualquer contra o frio. anda, anda, anda. eu sou bastante limitado das ideias, então penso assim: está traindo sua classe. o moço anda, anda, anda. porque são paulo não tem fim, não preciso me preocupar por enquanto. em explicar o que ele faz. é loiro, trabalhava de terno e ninguém na família achava particularmente bonito, porque todos os homens usam terno. ele às vezes se lembra com carinho e é da única coisa que tem dó: não se ver mais de terno, na frente do espelho, com aqueles calcanhares macios no sapato cheiroso. é bom se ver bonito. passa a mão sobre a barba a dias. pensa na mãe. a vida inteira que poderia ter sido. e que foi. tchau, minha vida. quando vê camburão, se esconde, sabe que o procuram. sequestrado, talvez. por sua causa, quatro homens negros morreram esta semana, suspeitos do sequestro. ele coça a barba, a viatura foi embora, retoma a estrada. outra vez eu queria escrever aqui sobre lembranças emocionais, mas acabo misturando tudo e não escrevo nem sobre uma coisa, nem sobre outra. outra coisa que me incomoda são esses impasses constantes, que explicito aqui no blogue mas que, sei lá, não me parecem muito produtivos. do ponto de vista da arte. porque eu quero fazer arte, né, claro, nem que seja só de brincadeira. escrevo pra mudar o mundo. vou mudar o quê? o moço anda, anda, anda. seus calcanhares já estão duros e ressecados, também o seu cabelo. e eu não alcanço a história dele. vou mudar pra onde?
queridas lembranças emocionais,
parei de chegar. a roda da fortuna. o mundo girando e a gente parado? não, não senhor. o dia explode em estradas. e o coração não toma banho quente nem escova os dentes. o coração é seu próprio calor. eu estou sentado, mas logo vou. ainda ter muita história pra contar...
7.7.11
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