agora falta fazer de partir / um ritual antigo como a chuva / que precipita e irriga a terra / generosidade, enchente, certeza / vira um rio que tudo arrasta / exceto seu próprio leito
e as águas por fim se juntem / carregadas de sais e dos mais menores microrganismos / memória matéria diluída no corpo / enorme oceano, te amo indefinido / habitado pleno / de vida e sal
deus se existir / futuro, se existir / prevejo o que já sei, que é de / tanto observar o que acontece / ao fim subimos evaporados / a deixar os sólidos, ser apenas vapor
mas agora eu ainda sou uma nascente. já nascida e que flui. na velocidade do tempo. porque a vida é líquida.
Já fiz exame da 4ª classe,
Já fiz a comunhão solene,
Para pensar na vida já tenho idade.
Mãe, quero ir ganhar dinheiro
Pai, quero ir para a cidade.
Mala nova na mão
Feita de madeira e papelão,
Dentro um fato de cotim
Que era do meu irmão Delfim,
Os sapatos de lona
E o diploma das minhas habilitações.
O terço e o santinho
E o meu livrinho de todas as orações.
E assim, saí daí,
De olhar para trás, pensamento em frente,
Em frente não havia mais nada não,
Em frente não havia mais nada não,
Do que o comboio, a cidade
Um navio e um avião.
Camurcina de riscado,
Um guarda-pó, cédula e uma certidão.
E pró senhor Coelho, que é merceeiro,
Vai uma carta de recomendação.
E assim, saí daí,
De olhar para trás, pensamento em frente,
Em frente não havia mais nada não,
Em frente não havia mais nada não,
Do que o comboio, a cidade
Um navio e um avião.
Umas ceroulas de flanela
Para do frio me aquecer
E uma venerinha de santa Teresinha,
Que está benzidinha
Para dos males me defender.
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