um passarinho na antena
pega sinais de todo planeta
assobia o hino nacional
depois narra um jogo de futebol
um passarinho distraído na antena
nem sabe quem canta o seu tema
saber não tem a ver com distração
seja você sabiá, avestruz ou andorinhão
um passarinho concentrado na antena
sabe os sons de todo o planeta
e tenta cantar todas as notas válidas
fica com nó nas cordas vocálicas
um passarinho pousado na antena
descansa do voo, esconde suas penas
recolhidas junto ao peito de passarinho
elas aquecem seu mudo coraçãozinho
depois por cãibra, calafrio ou comida
sai voando de novo na vida
um passarinho distante na antena
(eu escrevo, para que não me esqueça)
um dia cai pra sempre do ar
e, enquanto não cai, tem sorte ou azar
engole minhocas e caga nos carros
tem vermes e pulgas e outros bichos bizarros
e canta bastante - alto, bonito -
o canto da espécie - por isso eterno e finito -
o passarinho permanece na antena
e as coisas permanecem na mesma
mas / de repente ele voa, vai embora
só resta a antena, relevo no azul
o metal e o concreto que demoram
e um poema de passarinho, escrito em azul
5.10.11
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