se escrever sal
vasse eu não em
primeiro lugar esta
ria aqui
mas é que na
da salva?
nem jesus.
um telefone acorda
a casa madrugada porque
a guarda do município encontrou
vovó vagando no passado
senil de juventude pelas
ruas
no dia seguinte a gente acorda sabendo
pela consciência histórica e anos de instrução
escolar que há mais de quinhentos
anos chegavam os europeus ao continente
por causa deles é que hoje
eu amo quem eu amo
sobrenomes latinos, asiáticos, germânicos
mas a custo de quê? a custo de tanto.
logo tenho que começar a trabalhar.
uma mulher falou feliz "DINHEIRO
É BOM!" e a lia respondeu "dinheiro
é bom no sistema capitalista", a mulher
não ficou nem ofendida, tal o nosso rabo
no sistema capitalista
penso que se vivêssemos em
outras tradições minha
avozinha vagaria na flor-
esta que abraça a nossa
vila. ou queimaríamos
ela em vez das florestas
acusada bruxa do inútil
esquecimento. se minha
avó soubesse ler eu dedicava
tudo o que escrevo a ela.
o tempo está acabando.
perdi a conta dos dias
em que acordei sozinho na
casa precisando
trabalhar e não o fiz.
em vez disso preferi
vagar sem rumo
pelo pouco que me
resta de palavras só
à distância cooptadas pelo
capital. é uma espécie de
loucura, embora tímida, da qual
não tenho abrido mão, menos
agora com minha vó tão longe.
se é a única coisa que a gente
pode viver junto, por que
não?
(ando bem sem metafísica.
por isso não consigo escrever.
e desatento pela enxaqueca e pelo
sistema bancário.)
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