20.10.11

autopaleontólogo

o fim da adolescência / e a fuga do futuro que me esperava / me deram, entre outras condições de vida / a insegurança econômica e uma língua estrangeira / de repente conheço muitas pessoas de bogotá / e não tenho perto de mim minha própria avó / que está viva, todxs estamos

também / aí já pode ser um defeito de fabricação / uma iminência de fatalidade / da qual estaria bom, para fins recreativos / e de saúde / fazer a genealogia / como quem escava para encontrar / uma ossada certa e desconhecida

(comprei flores feias e mal-cheirosas / que não só morreram no primeiro dia / como podiam ter sido gastas em leite / ou em balas, ou batatas / não me arrependo de ter gastado o dinheiro assim / embora veja agora-as sobre a mesa / e quase mortas não tenha coragem / de jogar fora)

(a cozinha volta a estar cheia de baratas / e amanhã compraremos veneno / eu próprio, se vejo, em raiva esmago, / sou mais forte)

(mas não quero / não quero / viver num mundo em que morram flores / e baratas / como se nada)

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