30.3.10

lua cheia

é uma cobra enrodilhada / menos espera o escuro draga / um abajur de cada lado / você fica no meio, equidistante, não enxerga a um palmo / insira aqui o que o inconsciente coletivo diz sobre a caverna de platão / depois desove os ninhos de cobra / que ela vira tartaruga / levando quatro elefantes que equilibram / a nossa terra nas costas / e o menino / um gemido escorrido na noite / feito óleo de rícino e derespeito a todas as crianças de rua do mundo: estrelado

brilho minúsculo

apaga / assim que o dia nasce

28.3.10

ver o amor feito um abraço curto pra não sufocar

27.3.10

26.3.10

história da china nas minas gerais

e diz que aqui vinham chineses com nomes cristãos e pintavam os negros usando a técnica da tinta dourada sobre fundo vermelho, dentro das igrejas, no sertão. embaixo das igrejas vai ter um dragão escondido: ele acorda porque plutão está em capricórnio: treme a terra. o planeta vai se abrir feito casca de ovo e no fundo do espaço sideral estão lá: três dragões que conversam. no céu que é deles, nem imagino qual a cor, explode tão longe quase não aparece: um pingo de luz vermelha. toda a tinta das igrejas barrocas e toda a história da américa lusitana, e o tráfico negreiro e as vontades e os conceitos, tudo fogo --- vira luz no céu dos outros. os três dragões se mexem. em cima deles está a terra, e a terra é o universo em que a gente estava, e eles submersos. um dia um outro plutão afunda em outro capricórnio. aí os três dragões escapam e o universo quebra feito casca. tudo espatifado explode em fogo / / pra virar luz no céu dos outros.

24.3.10

horóscopo do amor

e essa noite eu sonhei que ele me mandava um email dizendo que a distância era só um jeito, pois a presença é uma realidade maior

no coro gospel se afirma: "em espírito e em verdade"

eu tenho falado com deus e seus lacaios. pergunto e me respondem. mas é num português que eu não entendo. é o português de deus.



o poder só engana quando achamos que estamos fora dele

23.3.10

os maiores bilionários do planeta

meu avô falou com toda a certeza do mundo, quando eu quis contar que a xuxa tinha TRÊS TRILHÕES DE DINHEIROS, "e isso vai levar ela pro céu?!?". eu achei estúpido, porque só queria contar. a mesma coisa quando ele chamou o didi mocó de **** por ter escalado o cristo pra beijar-lhe a mão. "Não adorarás imagens de escultura". eu sabia que era errado, mas que aventura subir no cristo redentor só com uma tira na cintura!

o helicóptero da globo me dava vertigem.

e dentro do cristo, estava no fantástico, um imenso coração de concreto armado.

abro a wikipédia e tem lá a notícia de que um mexicano é o maior bilionário do planeta, dono de empresas de telecomunicação (no brasil, a claro) e com fortuna equivalente a 7% do pib mexicano. se meu vô estivesse vivo (ele deve estar no céu) acho que diria a mesma coisa. a única coisa que eu me imagino fazendo com 53,5 bilhões de dólares é comprar uma casa muito bonita e num canto isolado do planeta, pra poder entrar lá e ficar triste o dia inteiro.

no méxico, o mexicano é chamado de "midas".

como crítica histórica, o título deste post poderia ser pizarro.

20.3.10

eu não sei o que é passar fome

as nossas avós racionavam manteiga / nos tempos de guerra. a minha ia pro lixão catar comida, mas nunca catava porque tinha nojo. preferia passar fome. e sempre passava na frente de um pomar de laranjas. hoje ela diz que, se não tivesse medo de levar tiro, tinha roubado todas as laranjas. minha mãe se escandaliza. o irmão da minha avó trabalhava numa padaria e a minha avó, em casa com a família, não tinha pão pra comer. ela diz "eu pensava nessas coisas", então eu concluo que minha avó tinha consciência de classe.

18.3.10

um dia gatinha manhosa

foi voltando pra casa que ele miou, pequenininho pedindo pão, eu falei "ok vou te dar pão" porque estava falando sozinho, ninguém fala com gato. nem com cachorro. a minha avó falou "não e não e não", então eu ameacei: amanhã jogo ele na rua. e quero ver se o caminhão atropelar! minha vó tem coração mole e não suporta que "judiem de criação".

toda a família gostou do gato. meu tio dizia: "esse aí até que é legal". e era mesmo. ele ia esperar a minha avó no portão do condomínio quando ela chegava da igreja. gastei minhas únicas economias na veterinária que disse: é um macho! receitou vermífugo, deu instruções gerais pra minha paternidade virgem e quando eu cheguei em casa e tirei o gato da caixa de sapatos, ele estava todo esmerdeado. dei banho e nunca vi bicho tão feio: parecia um rato, magricelo, rabudo e mal humorado. virou "Quincas".

depois ele deitava em cima dos meus livros e às vezes na minha cama, sobre o cobertor ficava se roçando no meu pinto. mas ninguém espera ter um contato erótico com um gato. quando eu era criança, vi um filme em que uns meninos metiam numa gata e o narrador dizia que tinham cortado as unhas dela, pra ela não arranhar. era um desses filmes de lembranças de infância no leste europeu do entre guerras, pffffff. morria de nojo do pinto na cloaca. até hoje não gosto.

depois eu mudei de cidade e o quincas ficou morando com a minha vó. se tornou um arruaceiro e vivia sumindo, cada vez por períodos mais longos.

esses dias foi que eu descobri que existe uma síndrome de imunodeficiência felina que é muito parecida com a nossa aids. a última vez que eu vi o quincas ele tinha ficado desaparecido mais de mês e, de repente, apareceu na sujeira vermelha da construção da casa do outro lado da rua. peguei ele no colo e botei ele pra dentro. era uma delícia de gato, muito boa gente. mas um dia ele foi embora e não voltou mais.

17.3.10

pirata

que nem no desenho animado / anda a rampa amarrado, a espada afiada picando o traseiro por trás. lá embaixo barbatanas que circulam.

.

é só isso, anotação. eu ia tentar escrever que isso é metáfora do amor mas bah!

13.3.10

portugal de navio

construo naus com meu avô / que não era português / ele amarrava cordas na tábua, suspensas no teto / eu me agarrava nas canelas / o balanço foi tirado quando acertei a canela dele

que ficou roxa e ele curvado / um chute certeiro e distraído / minha história com as autoridades

ando com afeto por tudo o que é rio: cada ponte, viaduto, garrafas PET, olho pra ele rio pra onde você vai? eu vou pro mar, eu vou pro mar / quem quererá me navegar? / um pirata, um baleeiro / algum amor vai me salvar?

amor não salva. o amor é um traficante angolano que sumiu de avião. pousou e agora faz carinho em alguma praia, sussurra na areia eu vou fugir, eu vou fugir / quem poderá me seguir?

7.3.10

amor fail

ficaram as canções
você não ficou

palpite, tropeço

descia a rua em castelhano / agora eu subo, augusta, pra te encontrar / inadvertido na avenida / quando foi que a gente virou esquina? / murcho, escorro na sarjeta / estou fingindo que não vivo

3.3.10

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

palpite

acho que o amor é anônimo.

2.3.10

a cor do blogue

em alguns monitores não dá pra ler e os comentários estão desativados.

que este dia esteja perdido
dedico essa perdição