18.3.10

um dia gatinha manhosa

foi voltando pra casa que ele miou, pequenininho pedindo pão, eu falei "ok vou te dar pão" porque estava falando sozinho, ninguém fala com gato. nem com cachorro. a minha avó falou "não e não e não", então eu ameacei: amanhã jogo ele na rua. e quero ver se o caminhão atropelar! minha vó tem coração mole e não suporta que "judiem de criação".

toda a família gostou do gato. meu tio dizia: "esse aí até que é legal". e era mesmo. ele ia esperar a minha avó no portão do condomínio quando ela chegava da igreja. gastei minhas únicas economias na veterinária que disse: é um macho! receitou vermífugo, deu instruções gerais pra minha paternidade virgem e quando eu cheguei em casa e tirei o gato da caixa de sapatos, ele estava todo esmerdeado. dei banho e nunca vi bicho tão feio: parecia um rato, magricelo, rabudo e mal humorado. virou "Quincas".

depois ele deitava em cima dos meus livros e às vezes na minha cama, sobre o cobertor ficava se roçando no meu pinto. mas ninguém espera ter um contato erótico com um gato. quando eu era criança, vi um filme em que uns meninos metiam numa gata e o narrador dizia que tinham cortado as unhas dela, pra ela não arranhar. era um desses filmes de lembranças de infância no leste europeu do entre guerras, pffffff. morria de nojo do pinto na cloaca. até hoje não gosto.

depois eu mudei de cidade e o quincas ficou morando com a minha vó. se tornou um arruaceiro e vivia sumindo, cada vez por períodos mais longos.

esses dias foi que eu descobri que existe uma síndrome de imunodeficiência felina que é muito parecida com a nossa aids. a última vez que eu vi o quincas ele tinha ficado desaparecido mais de mês e, de repente, apareceu na sujeira vermelha da construção da casa do outro lado da rua. peguei ele no colo e botei ele pra dentro. era uma delícia de gato, muito boa gente. mas um dia ele foi embora e não voltou mais.

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