28.9.09

flan náufrago

quem beija meu filho, minha boca adoça

Aniversário da mãe. O menino fuça o armário e vai fazer um flan de caixinha com calda imita ameixas. Come o flan pedaço no meio da colher banhada em calda, um naufrágio. A mãe é diabética, o menino suja a louça, não lava, mas é um amor que está ali derretido no açúcar caçoa do medo da morte / e ela come. O planeta é que anda a dar voltas em torno do Sol como se nada fosse doce a gente toma garapa imaginando a via láctea expandida além dela o espaço infinito de silêncio eterno talvez vikings astrais cometas macios de brigadeiro tudo o que é possível, até um flan de aniversário. Que as nossas cáries tenham a ver com a cultura caneeira implantada pelos portugueses e os trabalhadores rurais de hoje remontem a cinco séculos de trabalho escravo é coisa que implica na doçura, e de modo algum podemos isentar as corporações alimentícias do efeito que gradativamente essas delícias simuladas terão sobre o nosso prazo. / O menino leu a receita no verso da caixa piscando a cada palavra. Ali dentro, em forma de futuro, estava um mistério.

Um comentário:

  1. ow eu comentei aqui faz dias
    isso aqui tá muito bonito esse aqui ô libriano puerra besos

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