21.11.11

Novas estratégias militares para tempos de assombro

a nova guerra mundial aconteceu do seguinte modo: o país B, atacado com festejos após tensões com o país A, resolve revidar, não diretamente, mas atacando o aliado de seu inimigo, que chamaremos país C. O país C, por sua vez, também dono de armas e bombas e gente mandada a morrer, ataca o país D, que mantinha relações diplomáticas com seu inimigo e manifestava, de vez em quando, descontentamento com as políticas do país A. Surpreso com a retaliação arbitrária que o acometeu, o país D mobiliza suas tropas e, para garantir a segurança nacional, decreta estado de sítio, ocupa os pequenos países E e F, seus vizinhos amigos dos países A e C, e ataca, para demonstrar seu poder bélico, o país G, limítrofe com o país H, que por sua vez é forte aliado do país A.

Não se pense, erroneamente, que a ordem das letras implica uma ordem geográfica, padrões de distância ou extensão territorial, nada disso. A ordem só serve para garantir que o nosso raciocínio consiga, de mãos lavadas, entender o exemplo. Também há que advertir que no mundo há mais países do que o alfabeto romano poderia imaginar. E há as pessoas, que não são computadas em letras e já chegam a cifras incontáveis, apesar das políticas públicas de contenção do crescimento populacional promovidas pelos países em guerra.

João Cabral de Melo Neto escreveu um poema muito bonito sobre o nascimento do dia. A primeira estrofe diz assim:

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


Sabe-se que, enquanto os governantes declamavam a guerra, empresários do setor alimentício, justificados pela fome - que, assim como o PIB mundial, crescia silenciosa e apressadamente -, inventaram uma nova técnica de aproveitamento das granjas que consistia em triturar galinhas inteiras, suas penas e cristas, e disso derivar uma sopa aguada e nutritiva, com cor e cheiro de merda, que era vendida a preços justos após as cidades serem saqueadas.

Os galos, portanto, não mais existiam, por isso não cantavam. A manhã, contudo, continuava nascendo, o que demonstrava per se a inutilidade da poesia.

Não tão inútil se pensarmos que a estratégia de guerra acima demonstrada se parece muito ao esquema de amanhecer escrito por João Cabral. Um país lança um grito a outro / que apenas o apanha e a / outro lança em grito o / grito e muitos / gritos etc., até que o mundo todo esteja em guerra. A poesia, concluímos, é muito boa para profetizar e dar ideias, mas só a ação que deriva dela é que é útil. Também não diz verdades incontestáveis, pois a experiência comprova que um país, sozinho, sim pode tecer a guerra. O que ocorre é que todos juntos, digo, se todos nos juntarmos em favor do único objetivo que realmente temos em comum, a história será mais rápida e eficaz.

Cada um de nós é um galo. Cada um de nós é uma galinha.

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