17.5.12

é um cortejo fúnebre
mas não é
cadê o morto?
o metrô parado por causa da greve
as buzinas lotam a tarde de gente
depois de grandes desastres naturais
embora o capitalismo siga o mesmo
e há instituições, o palácio do presidente
o haiti fukushima chernobyl
o brasil
repare que a terra continua embaixo
o céu continua em cima
e a gente segue até dizer chega

mamãe leva a menina para a escolinha
se você realmente quisesse o melhor para seus filhos
não os educaria seguindo estereótipos de gênero opressivos

este é um cortejo fúnebre
para os vivos

tanto é assim que nesta manhã eu tomei meus remédios
depois comi pão tomei iogurte prestando atenção no triglicérides
tenho um milhão de contatos de email telefone nas redes sociais
gente que eu lembro com carinho, mesmo que não veja mais
li uma crônica que me deixou emocionado, de um autor que eu gosto muito
depois das grandes catástrofes naturais
leio um livro que fala de cavalos pré-históricos habitando a américa do sul
cujos primeiros habitantes eram negroides e talvez vieram
trazidos por ovnis ou tecnologias de navegação muito avançadas
que se perderam
como só o avanço se perde
séculos antes dos europeus os maias já tinham inventado o conceito de
zero,
inquisidores queimaram essas bibliotecas para expurgar o demônio da floresta
seis jovens condenados à forca no irã por serem homossexuais
e os carros passam, os cães ladram, as plantas sobem
sempre em direção ao sol
mesmo que você entorne o vaso

uma amiga me diz que fica muito contente de não ter se matado
agora que estão acontecendo tantas coisas boas
eu também, e ainda não me matei
nem planejo
que ninguém se mate
feito aquele povo na guiana
que esperava o arrebatamento num suicídio coletivo
que ninguém se mate
porque o mundo é dos vivos
e há palavras imensas que esperam por nós
um grande conhecimento no fundo do oceano
grutas e por quês nunca antes contemplados
esperarmos os ETs, há motivos de sobra
pra estar feliz e ansioso neste dia de outono
no apartamento emprestado de um amigo
o mundo
é dos vivos

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