18.5.12

Teoria da eterna origem

uma coisa é igual à outra / e uma coisa vem da outra. Mas diferencia-se e torna-se outra, hm, como explicar? Assim - primeiro veio à Terra meteoro, bactérias se formaram e se reproduziram, foram separadas e se reproduziram. Agora todos sabem que as coisas se diferenciam. Então bilhões de anos se passaram e a diferença da diferença transformou-se no que parece diferente. Agora olhe de perto: do mesmo jeito que nós, um lagarto tem braços cabeça coração. As barbatanas de um peixe, o nariz do sapo. Vertebrados com dedos. Se minha mãe estiver certa, Deus tem uma tremenda falta de imaginação. Ainda mais sendo ele quem ele É.

Então a história fica a seguinte: a seleção natural nos diferencia, mas somos basicamente os mesmos. O que a história não conta é que tudo isso já tinha acontecido.

Em outro planeta, outro sol cansado queria se livrar de nós. A luz se apaga, envolve e traga escuro fim da vida. Nossos muito antepassados tinham atingido alto nível de tecnologia e disseram: vamos embora. Resolveram mandar pro espaço as bactérias. Eles próprios aterrissaram em outros portos e nos visitam com frequência, mas esta ainda é outra história.

Porque a vida é inevitável - e a personagem se surpreende sempre de ainda estar aqui - (meu deus, eu ainda estou aqui!) - os meteoros que chegaram à Terra trazendo hibernadas bactérias desenvolveram-se mais ou menos como os nossos muito antepassados, e eis a gente.

A gente.

Que em menos que três bilhões de anos conseguiu fazer tanto estrago.

A gente.

Que poderíamos ser classificados como um vírus
vertebrado
adaptável ao ambiente e apto a derrubá-lo
minando as defesas do planeta
- mas esta ainda é outra história
- ou será a mesma?

Nossas guerras nos destroem e a seleção natural segue valendo,

daqui a muitos bilhões de anos também este Sol vai se cansar

nós, que teremos morrido e mudado e foguetes e dados perdidos refeitos, nós construiremos naves enormes e mandaremos tudo pelo espaço.

Uma parte da raça chega a um planeta. Faz, lá, sabe-se lá que desgraça de civilização, ou encontra a beleza? E asteroides sem órbita vagarão entre os planetas até que a gravidade

a gravidade

essa que quer, intransitivamente. A gravidade o puxa e crava em seu útero aberto uma estrela, bactéria, amaciada em mornidão e atmosfera se prolifera a será diversa como a Terra que um dia foi. Mãos, pernas, olhos. Caule, folha, flor.

A vida é uma raiz contagiosa.

Quantos sóis (meu deus) não explodirão, e quantas naves, e quantos começos aterrissarão.

Se minha mãe estiver certa, não tenho nada que me preocupar. O infinito será individual. Nesse caso tenho um inferno reservado e duradouro e arrependimento para sempre da minha contranatura. Caso contrário, num futuro - que pra nós é inominável, mas conhecido neste já - outra coisa parecida com uma mãe, olhos bocas sutiã, ditará medos terríveis para proteger a nova vida.

Universo em movimento, universo em expansão
eterno até o fim dos tempos,
até.

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