10.7.12

o ano mais difícil de nossas vidas

todas as tartarugas
rompem ao mesmo tempo
ou quase
seus ovinhos
de casca mole pra répteis
tão duros, nascidos nos dinossauros
depois atravessam
uma vez eu vi
na televisão que uma cidade
tinha migração de sapos no meio das ruas
ou seriam aligátores
crocodilos mais que grandes
mal nascidos e já migrantes

depois
conseguiram um salário
e contas a pagar
subiam a correnteza
pulando contra as águas
até que um urso os pegasse
salmões?

nos reunimos
eu e os bichos
pra trocarmos experiências
eu conto que contraí uma doença
e antes disso já fui hippie
embora tudo seja meio mentira
mantivemos a música dramática
depois comemos o salgadinho
enquanto os colegas de trabalho balançavam a cabeça
compadecidos e diziam
"que dureza..."

duro
é o que eu tenho entre as pernas
que acorda
apesar de tudo
mesmo quando eu não quero
e sai da toca
se arrasta na areia
e chega no mar

grande água na nossa carapaça
sal e rumo sem fronteiras de correntes
no entanto solte um bote à deriva
ainda que afunde         ele chega
ainda que aporte          ele entrega

filhotes de futuro diluídos no presente
antigas técnicas de decantação me são passadas
depois de tantas vezes que eu não morri
durmo adulto sobre os bens adquiridos
mas faço, da matéria que não tenho:

um casco que sustenta
às minhas costas, quatro elefantes

nas suas trombas, continentes,
tudo o que você quer
mas também tudo

aquilo que ninguém nem imagina

existir

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