lembranças da infância protestante / quando eu jogava travesseiros no chão se não queria ir à igreja / minha mãe me fazia recolher os travesseiros e ir na igreja mesmo assim / depois eu pedia desculpas pra deus e não entendia nada / continuo sem entender, mas hoje não tem pra quem pedir desculpas / e não jogo travesseiros no chão em sinal de protesto / vim parar muito longe da minha mãe e de qualquer sinal de deus, era o que queria / acordo pela manhã com o canto gregoriano dos católicos ao lado / amanhã é domingo e eu não tenho nada me esperando / ninguém que me acorde e obrigue a vestir a roupa boa
nenhuma roupa é boa o bastante
dormi sozinho e nesse sono deus estava comigo. é um cachorro que abusa de gente desacordada. acordei melado e sem aproveitar o prazer. depois fui me limpar e senti umas dores de rasgo, vi uns arranhões. deus nos conhece do jeito que bem entender. fico olhando os roxos no espelho e pensando que não sei o que fizeram comigo.
volto pra cama à procura de sinais. não há pentelho que deus tenha deixado. os peritos não encontrariam nenhum rastro de sêmen. "é um criminoso muito astuto" conclui-se, e encerra-se o caso. instalo a chave tetra na porta da frente. ponho a bíblia no lixo. não no reciclável.
maldita essa orfandade.
virão anjos e demônios, quase todos corretores de seguros. durmo a noite como todas as outras - as passadas até a minha primeira, e as seguintes até aquela incógnita futura não sei se em cama nem de quem, se minha ou mesmo em pé, explosão nos ares sobre o atlântico, talvez sentado, talvez sozinho
(nunca tinha pensado na minha primeira noite - sozinho, agasalhado e exposto - num berçário de hospital)
agora tenho sono e uma resistência ao sono não sei de onde. espero algo que ocorra. essa espera também é maldição cristã (elaboro), a vinda do cristo como ladrão, vigiai. luz elétrica no planeta, acesso a internet banda larga, solitária condição humana, vigiai.
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14.8.11
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