29.8.11

depois das quedas

todo mundo tem problemas. isso resolve os meus? não, é muito óbvio. assim:

eu vinha descendo a escada, escorreguei e caí de bunda nos degraus.

, eu vinha descendo a escada. escorreguei. caí de bunda nos degraus. quebrei a bacia.

antes de quebrar a bacia, eu vinha descendo a escada. ninguém me viu. era de noite e a escada era escura. eu vinha fugindo. o núcleo da história é o mesmo: caí. de bunda.

era um prédio muito antigo. quantas vezes, no mesmo degrau, alguém, que não eu, teria escorregado e caído?

e na calçada? e em cada esquina? o mundo é inteiro muito antigo.

eu vinha descendo a escada, escorreguei. no exato momento em que o prédio caiu.

a) por fatalidade do destino, minha queda me levou a um vão entre os escombros. dois dias depois os bombeiros me encontraram. eu estava vivo.

b) o destino é imprevisível. minha queda me levou à ruína mais difícil. sobrevivi mal por uma semana, bebendo a própria urina. os bombeiros me encontraram. morri dois dias depois, no hospital.

depois que saí do prédio, comprei um alfajor. "não tenho dinheiro", pensei, e comprei um mais barato. "para o mais barato sim tenho dinheiro".

porque antes eu caí. e quis me fazer um agrado.

a gravidade não me agrada.

se ela gostasse de mim. uma vez concluí, um pouco tonto de ternura, que se não saímos por aí voando no universo é porque a gravidade nos quer, ELA NOS QUER, e tive esperança nisso. agora estou um pouco cansado e dolorido.

certos quereres não sei se é tão bom querê-los.

em torno de um imenso buraco negro, o nosso planeta partícula da galáxia anda escorregando e caindo há muito tempo.

[aqui me tenta uma síntese. ou redenção dos meus companheiros, das minhas companheiras, todxs caem. mas nisso de problemas tê-los não resolve. termino o texto assim,

caindo

Nenhum comentário:

Postar um comentário