10.8.09

queimar todas as pontes de regresso

Sempre que contrariada, ela soltava um grito e pulava da janela. A família, percebendo a tendência, acabou por se mudar pra uma casa térrea. / A paixão dos suicidas que se matam sem explicação /

Ela explicava demais, fez um blog para isso, Álvaro de Campos sendo um atrativo e tanto, "Se te queres matar, por que não te queres matar?". Eu mesmo já tomei uma cartela de Gardenal. Minha tia diz ser falta de pica. A sutileza dos mecanismos heteronormativos. E as palavras dizem vida, vida, vida / e são só cinzas.

A outra amiga fica brava com gente que se mata. Ou a nossa sociedade dopada de antidepressivos consome os recursos naturais todos nós caminhamos pra morte etc. No inferno, os suicidas são moitas bicadas por aves, pisadas por legiões, condenadas a renascer.

A dor é que é uma coisa muito séria, alardeá-la por aí, além de um anacronismo quanta deselegância! E estão enfileirando porta-retratos. Quem estiver a fim, que faça como o Torquato!


Katsushika Hokusai (1760-1849), "Tesouras e pardal"

Nenhum comentário:

Postar um comentário