17.5.10

1997

O menino tem vergonha dos pelos nas pernas. Ponha ele pra andar em direção à escola: na volta, se estiver chovendo, eu venho devagar com os cadernos sob a camisa, molham só as beiradas. Eu me encharcava. Parei de pegar o ônibus porque me disseram que um grandão ia bater em mim. Aí o menino nunca mais andou de ônibus e no ano seguinte ia dizer que gostava muito de Dostoievski, motivo pelo qual quase ganhou um dicionário de russo e foi obrigado a ler Almas mortas, do Gógol, pela chefe da mãe. "Ah, então você gosta de literatura russa?". Eu disse que sim porque tinha vergonha de discordar dos outros, achava má-educação. Mas isso foi em 1998.

Em 1997 cinco adolescentes botaram fogo em um índio que dormia num ponto de ônibus em Brasília. Ele era lider de um grupo indígena e no dia anterior, Dia do Índio, tinha se reunido com o então presidente Fernando Henrique. Os meninos que mataram o índio disseram que só queriam ter dado um susto nele - e só tacaram fogo porque acharam que era um mendigo.

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