12.2.11

a bailar que se acaba el mundo

meu avô todo reveillon cumprimentava
todo mundo dizendo "foi muito bom
te conhecer tenha uma vida muito
feliz ano que vem já não estou
aqui" esperava que fosse morrer
a cada ano e nunca que vinha
a morte, eu mesmo já me perguntei
de mim
"quando é que ela vem?" ela não vem
chego a duvidar, meu vô teve derrame
ligo para a prima e recebo a notícia
nada grave, nada grave,
perdeu a vista o médico disse
que em breve voltará, se meu vô
cumprir sua missão de não morrer

(quando é que ela vem? quando é que ela vem?)

amado avô que sabe tanto da vida
prática, eu que só tenho talento
para as coisas que não existem vou
sair para dançar enquanto o senhor
está num leito hospitalar, amado avô,
ai
a morte não nos soluciona

*

amado avô suspeito que isso
seja uma metástase o estarmos
tão vivos que a espera se
perde dos abraços de ano
novo,

uma vida toda pela frente
estala a manhã e anoitece
medos e cegueira temporária
é um fardo ser, amado avô,

a um leito hospitalar
eu dou os pés para dançar

e desejo, teu sono profundo,
que se acabe logo o mundo

*

matéria extinta e persistente
bailarás ao sol poente

um ritmo na hora da ida
assim se distrai a vida

que segue por causa do pulso
as curvas agudas de um curso

estranho, hostil, sem sentido
e tão tardio quanto infinito

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