7.6.10

mistério

Você me disse que eu iria pular muito de um lado pro outro, que nem saci.
Hoje acordei uma locomotiva.
Vejo a nossa correspondência e tudo se aclara.
Rancor é um dente podre. Agora não tem mais.
O aprendizado pelo corpo.
Só agora eu levo a sério:

*

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


*

Minúscula, desde cedo clandestina. E aperta nas pontas dos dedos até chegar à maciez da carne que cede. Com as perninhas sem joelhos, ela corre pro canto último do jardim, chuquinhas na cabeça, se abaixa e olha: o redondo escondido, tatuzinho. Eu primeiro imaginei que ela teria um prazer muito grande em apertá-lo e os dedinhos molhados de vida esmagada, mas agora penso melhor que isso é um prazer de adulto, esse massacre do corpo. Bolinha cinza que se mexe. Uma pílula. Ela mastiga com gengivas e engole. O título desta história ia ser O amor maior, mas por enquanto fica sem título. Enquanto a mãe não lhe der umas palmadas, ela goza de uma delícia, uma inteireza, uma saliva - que só quem come pode entender.

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