18.3.11

andaime as estrelas me vejam e
digam que tudo é bobagem, sabidas
do alto e das quedas, o escuro dizem
que deixa escapar uns fiapos de
luz e as crianças fazem pedidos, não
era o meu caso nunca vi essas coisas
apenas quando estive numa praia e
juro um disco-voador certeiro
sem mistério, depois me disseram
"um satélite" ou certos fenômenos
físicos, meteorológicos

eu sou um fenômeno desses. reviso
livros de ciências com isso ganho dinheiro.
os dias passo aprendendo que pra
darwin o progresso é o acaso. olho
meus companheiros macacos. algo aqui
está muito errado.

*

não sei mais escrever. como já não sabia falar, deus me apareceu em sonho e disse "escolha o que melhor lhe aprouver" assim, para um futuro precavido. não soube escolher e deus me deu um prazo. não creio no prazo de deus, pois ele é eterno e no eterno o tempo se dilui.

*

Eu planejava viajar o mundo. Pensei "em cada cidade vou ter um nome". Acho que tinha lido O falecido Mattia Pascal, do Pirandello, e gostei do enredo. Porque pensei "eu não preciso morrer". E: "posso morrer mais vezes". Mas a vez que eu cheguei mais perto de me fazer mendigo foi quando caminhei três horas numa rodovia expressa. Era um tempo radical. E, mesmo assim, na hora da escolha, eu fui pela avenida que me voltava à cidade. Um bumerangue. Imaginava que inventaria uma vida em cada cidade e que nada me deteria. Hoje eu sei: nada me detém. Mas não pude isso de mais vidas. Tenho uma só. Às vezes olho pra ela desconfiado, achando que ela não está lá. Que ela é um disco-voador que chegou em sonho, desses que depois todo mundo vai dizer "não" e dar explicações muito mais plausíveis.

*

florestas, aviões
o mar é tudo em torno

assim começa o caso
do menino que era lobo

caído de pais mesquinhos
criado pelas feras

encontraram-no os cientistas
e o tiraram da alcateia

o menino que era lobo
já tem cama, carro e seguro

e hoje uiva bem baixinho
à noite, para si, no mais escuro

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