Com o método Paulo Freire, a ideia era juntar alfabetização com consciência política. Então, você estava criando um sujeito político novo, que era o ex-analfabeto, agora alfabetizado, ciente dos seus interesses históricos. A ideia era que o atraso é passível de superação pelo moderno. Chega-se então a uma síntese, que empurraria para frente. Enquanto a imagem típica do Tropicalismo é uma coisa formalmente ultramoderna, mas que apresenta a massa da matéria arcaica do país dizendo: isso aqui nunca vai se transformar porque o Brasil é absurdo. O Tropicalismo opera com os resultados do golpe de direita. Então ele: a) constatava que a situação tinha se congelado, b) contribuía com a sua formação para esse congelamento. Mas como apresentava esse congelamento como um absurdo, como um escândalo, uma coisa ridícula, grotesca, não era unilateral. Era uma coisa metade crítica, metade conformista. Indicava o escândalo, de forma interessante e importante, mas não buscava formas de superação.
(Roberto Schwarz)
O Tropicalismo produziu, com grandes recursos de linguagem poética e musical - inclusive a incorporação de instrumentos considerados malditos - uma linguagem capaz de dar conta, desde uma perspectiva crítica que abusava do paradoxo e do humor, do "desenvolvimento desigual e combinado" brasileiro. Não sei se a lógica era mercantil desde o início. Eles se arriscaram, foram vaiados, não tiveram sucesso mercantil imediato.
(Maria Rita Kehl)
O mundo hoje descobriu o Tropicalismo. Eu recebo na Universidade estudantes de toda parte querendo escrever teses sobre esses artistas brasileiros. Por quê? Porque o mundo pós-moderno descobriu que alguns sujeitos estranhos, num país que é a rebarba do Ocidente, nos anos 1950 e 1960 faziam exatamente o que eles estão fazendo hoje: aderir criticando e criticar aderindo. São choques, justaposições, é a lógica da produção infinita. É um raciocínio inteligente, sedutor e niilista.
(Francisco Alambert)
(extraído do programa da Ópera dos Vivos, da Companhia do Latão)
7.3.11
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