24.3.11

passei as últimas cinco
horas escrevendo sucessivas
cartas pro mundo começava
assim "querido mundo" e continuava
para cada fantasma um novo
assombro ao fim não me despedia,
o mundo - imagino - fica girando
elipses num sol absurdo,
e essas cartas não vão chegar

querido mundo,
tuas grades de ozônio
teu fosso de mar

querido mundo, encontrei um professor
que disse que marx e um grão de areia,
tendo em vista a vastitude do universo,
ocupam o mesmo tamanho,
nada que eu não saiba

as cartas são incompletas. começo
"querido mundo" mas nunca me
despeço, fica incompleta

...

eu só escrevo porque preciso. tem um ponto em que acontece: também os outros precisam. tudo o que não for esse encontro, bem, é só o inevitável desencontro. feito as cartas que se perdem. queria mesmo não precisar escrever. nem qualquer outra coisas. me vêm essas vontades de nada. tipo hoje ver um cachorro, gosto de olhar cachorros, crio uma inveja. prova de que os animais são racionais: é que não nos põem coleiras. mas esse cachorro estava solto, e eu estava escrevendo.

amanhã devo acordar. para isso, devo dormir. antes que seja amanhã. nisso consiste a coisa toda: você dorme, então é amanhã e você acorda. o cão não tem depois porque não tem antes. ou os dele muito mais amenos, já que o resto é que é selvagem, nele.

...

o planeta pesa mais a cada ano
tanta a quantidade de poeira estelar que se acumula
vi na tevê

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