12.5.11

sodoma & gomorra

o filme mostrava uns homens morenos, escuros, com os olhos pintados a lápis e muitos ouros. Nem sei se eu sabia o que era estupro, mas não adianta, a gente reconhece uma ameaça. Naquele caso, a ameaça era a munheca solta, e depois uma multidão de luxuriosos que pedia para Ló que lhes entregasse seus visitantes, dois anjos do Senhor, "porque queremos ter relações com eles". Alguma coisa no meu ventre se mexia. Eu nunca tive grandes crises de sexualidade. A educação evangélica me ensinou, antes de tudo, a ser fatalista. Quando meu pai descobriu que eu gostava de homens (nunca sei como enunciar isso, direito. Gay, homossexualidade, nada disso dá conta do recado. Essa é a graça das palavras?), meu pai disse pra uma tia, que não tinha a menor ideia do que estava se passando, pelo telefone: "Tudo tem solução, menos a morte". Ainda bem que meu pai não me matou, nem nada parecido. É bem comum isso acontecer e era um medo muito grande que eu tinha. Deus mandou enxofre e incêndio cair sobre as cidades pecadoras, eliminando da terra todos aqueles homens morenos e afeminados, brilhantes. Cinco mil anos depois meu pai morreu antes de mim, de câncer no pulmão, o que mostra que Deus não tem um julgamento muito constante. Depois de sair da cidade, a esposa de Ló desobedeu as ordens dos anjos de não olhar para trás, jamais, e virou uma estátua de sal que, segundo meus avós, continua lá, em algum arredor da Terra Prometida, provando que tudo era verdade. Ló ficou sozinho com suas duas filhas, que, segundo se diz, temerosas de não haver continuação da raça, pois moravam numa caverna e ninguém as visitava, embriagaram o pai e deitaram-se com ele, logo engravidando. A mulher é um ser muito pernicioso, como se sabe. E os desígnios de Deus são imperscrutáveis.

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