13.1.11

corpo ó corpo
eu não acredito em você
que acorda doído e me diz
"vou morrer, vou morrer"
e traz cicatrizes que não doem nem na lembrança
me olho no espelho e reconheço
a criança morta nos traços, deformada,
corpo ó corpo um momento da minha atenção
é te perceber e triste, resignado,
"eu sou meu corpo" poderia dizer
mas o sou se me escapa nos ralos
do banho, pessoas mortas no esperma
que escorre, eu sou o
futuro

II

corpo ó corpo
que eu não creio e frágil
que eu sinto e persiste
é o bambu dos contos zen
se dobla mas nunca se quebla
e eu penso "de bambu não tenho nada"
ai queria mesmo é ser meu corpo
viver de ossos e pele que não lembra
os anéis das árvores que contam
a história pro primeiro lenhador
atento, pro globo repórter
a árvore é o seu depois

III

fosse o céu castrado pelos prédios um
outro corpo eu lhe diria "céu ó
céu" lhe diria "corpo amigo" lhe diria
"e u é?"

o céu responderia com nuvens sem resposta
se eu estivesse lá fora tomaria chuva
periga uma pneumonia
e as ideias atracadas no apartamento

corpo ó corpo
sos um porto

IV

"vou morrer, vou morrer"

corpo, ó corpo nascituro,
eu sou futuro

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