24.1.11

trabalho

estou fazendo amor com a parede. desde há horas, quando o céu relampejava, sentei aqui pra trabalhar e ouço do outro lado uma televisão vibrante, meu corpo todo estivesse na luz azul, a vizinha é uma senhora interessada no que a rede globo pode mostrar

minhas costas mostram muito mais.

gosto de revisar textos porque aprendo muito e coisas desconexas. por exemplo que mulheres têm mais frequentemente que homens infecção urinária. minhas costas continuam urgentes na parede. acabo de sair de um buraco. cada vez que eu entro, penso não vou sair nunca mais. o buraco entra em mim. então chego no meu corpo e tenho ele inteiro pra dar, distribuir a quem quiser.

imprimi todas as páginas. não escrevo há um tempo. hoje não comecei um conto que deveria ter começado. é a história de uma descoberta aterradora. talvez tenha feito bem, porque a descoberta é muito terrível e talvez eu não deva descobri-la hoje.

então ainda estou sem fio. feito os heróis que não saíram do labirinto e por isso não se tornaram heróis. a vocação vacila além de mim. tenho o trabalho banal pra me salvar, o capitalismo atendeu minhas preces.

hoje também conversei com a andrea sobre a necessidade humana da narrativa trágica, desde os gregos. foi a descoberta terrível do dia. lembrei, no lastro, do verso do pessoa em que ele chama o ser humano de "cadáver adiado que procria". e do poema do manuel bandeira, "momento num café", em que ele diz que a vida é "uma agitação feroz e sem finalidade". como eu já saí do buraco, posso correr esse risco outra vez.

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