14.1.11

tivesse

escorrega dos olhos o
que é teu, dos meus
digo, os cílios tentam prender

os cílios são aranhas sem teia

tivesse eu teias nos pulsos
o jornal nacional anunciaria a catástrofe

mas o coração faz guerrilha urbana

hoje eu acordei com febre e dores no corpo
uma amiga fazia trabalho voluntário e um dia contou
sem se gabar, até um pouco constrangida
que dava sopa às pessoas abandonadas e que ocorria
comum uma delas pedir mais que sopa, mais que pão
um abraço, ela abraçava a pessoa suja, eu sempre
penso que miséria tão grande, imagine, você há meses
sem tomar banho, você sujo preto pobre, de humano
só conhece o nojo

meu coração não faz guerrilha
mas também não quero que fique mendigo
melhor morrer de pé do que viver prostrado
melhor viver prostrado e com abraço
dessa febre eu não me safo

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