2.7.11

please refrain from the use of poetry

o corpo sozinho fica no revés da cama / você toca travesseiros, cobertores, assoa o nariz no pijama / quando acorda, está embaixo do colchão / se levanta e está embaixo do chão / agora fui tomar café, bingo: eu estava embaixo da cafeteira e não pude fazer nada / é assim que acontece / o corpo sozinho fica embaixo das coisas / há uma falta fundamental nesta manhã de sábado / dizem que se você tentar segurar pelo braço uma estrela-do-mar, ela se amputa e sai correndo / e do braço que sobra surge uma outra / nós, que somos o topo da cadeia evolutiva, não temos esse dom / bela evolução a nossa

estava usando o blogue pra escrever coisas muito edificantes / como se eu fosse uma estrela-do-mar, veja só a prepotência / e também fragmentos de uma coisa maior / ultimamente, ando meio esgotado / mas não ando no esgoto

fui fazer o café outra vez / agora se tivesse mais sorte / na cozinha, descobri o inevitável / que eu estou dentro das minhas calças e da minha camiseta / me dá muita falta de ar e me dispo, pra desespero dos passantes / com o mesmo assombro descubro / que estou dentro do meu peito e da minha cabeça / rasgasse a carne a tesouradas, aonde isso ia dar? / minha citação de filme favorita:

A galinha é composta de interior e de exterior. Quando tiramos o exterior, vemos o interior. Quando tiramos o interior, vemos sua alma.

mas não sou galinha e desconfio que não tenha alma / o que seria uma grande decepção após as tesouradas / o mundo se acabar num vácuo infindo ausência de amor / hoje faz cinquenta anos que o hemingway se matou / it's better to burn out than to fade away / esse sol, essa casca de banana vazia botam a gente comovido como o diabo / bom dia, sol. bom dia, dia. bom dia, diabo.

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