5.2.12

incerto o nosso afeto. numa camisa é que encontra: nas gavetas, meias, nas cuecas o dobro seu tamanho. e vai despindo o pai ausente: tira as calças, tenta os sapatos, o cheiro de pai em todo o ambiente, no duro do uniforme amarelo as axilas. depois o pai vai chegar e encontra a criança deitada, amassou todas as roupas, a gente faz o próprio ninho, a criança o cheiro fresco sem suor e vai fazer o quê? dá-lhe porrada, repreende, desce as calças violenta. ou só se deita ao lado dela, sem ódio, ao contrário, e dorme junto, o mundo inteiro nesta cama inexistente. cavamos o afeto no colchão meio a bagunça e acordamos com a janela aberta num pai que não vem, na roupa que não tem, ou acordamos no sonho de um abraço, presos no cheiro ruim de uma boca que queremos.

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