29.8.10

decola

um céu todo teu. fim.

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Devido a grande pane no acontecimento das coisas, todos os aviões do mundo foram impedidos de pousar, os que estavam em voo, pilotos inalcançáveis convictos e outros, no chão, ninguém mais decolava também. Os passageiros aéreos ficaram desesperados, ao que sucederam-se vários motins, barrinhas de cereais roubadas no dente, e quedas mortes porque é melhor morrer logo do que ficar aqui voando até morrer depois, seja de fome inanição ou solidão, qualquer passageiro diria isso em entrevista, uns de fato disseram pelas redes de comunicação invisível que existem no planeta, suas fotos sorridentes em jornais do tempo em que estavam na terra. Uma boa parte dos aviões, no entanto, seguiu voo. E foram abatidos por terroristas presidentes raios vendavais ou simplesmente aves nas turbinas, o desengano maior que é um encontro entre dois objetos livres em voo que se exterminam mutuamente.

Nós, aqui embaixo, assistíamos a tudo primeiro espantados, depois perplexos, depois vagamente perplexos, depois sem sombra de espanto. Os aviões em terra enferrujaram e cresceram as companhias de transportes fluviais. Menos pessoas viajavam, verdade, pois os caminhos ficaram longos e nem sempre se tem paciência para o mês no convés. Contudo, talvez pelo costume, o trânsito entre os continentes seguia volumoso, multidões se deslocando entre turismo trabalho e aquilo que eu não quero mais chamar de amor. Os navios partiam lotados rumo ao horizonte e muita gente esperava nos portos para embarcar. Até o dia em que os navios se esqueceram das margens, dos ritos, e nunca mais atracaram.

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