8.8.11

põe-se em movimento. lei da inércia. os movimentos se mantêm. o que é estático também.

mas.

tem um conto do borges em que ele fala das unhas dos pés. que são feito um bicho selvagem. ontem, li um texto que diz que as memórias são outros animais selvagens. entre as unhas e as lembranças, começo a desconfiar que nada se domestica. que das raposas e lobos fabricamos cães mansos. mas que.

minha avó tinha um cachorro que era muito seu amigo. até que lhe atacou a jugular.

era uma fila que se chamava tequila, se não me engano. nas reuniões de família, todos sempre dizem "cachorra ruim", como do demônio. e também contam que a tequila ficava com a cabeça enorme entre as minhas pernas, eu no carrinho de bebê a dar-lhe chutes, e minha mãe apavorada, mas a cachorra ruim levava os chutes no focinho e ficava ali, talvez numa espécie de afeto (quem sou eu pra nomear o que sentem os cachorros?)

nada se domestica. e o selvagem pode inclusive nos surpreender com um amor feroz. que não mastiga.

assim os pensamentos e as palavras. que não são mais do que nosso instinto. dos humanos dizem que não temos instinto, a repetição que faz os tigres serem tigres. que bobagem. o nosso instinto é o incerto. nos faz ser incertos.

vou escrever cartas em português para espalhar pela cidade.

não, não vou.

portanto, não faz sentido esperar o selvagem que venha do solo, um terremoto redenção a tempestade um tiro fim, a água das paixões. também o lar é perigoso. um pântano à mercê do próximo jacaré.

que vem. que está.

eu sou um jacaré.

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