7.8.11

sai sozinha embora pudesse ter dado a torta a algum vizinho

tinha um histórico na família. o pai se matara. o avô também. a filha, muito cedo se atirara da janela. houve burburinho e comoção no horário nobre. mas logo se confirmou, para alívio de todos e desespero da mãe: havia sido suicídio, não assassinato. saída do banco dos réus, a mãe ficou um mês sem sair de casa. não tinha mais ninguém pra se importar. chegou a pegar facas venenos persianas várias vezes, mas nunca alcançava. eu não te alcanço. dormiu e sonhou com um subsolo muito luminoso, onde viviam flores belas escondidas, sufocadas no próprio aroma.

este aroma. agradável, tão gostoso. encerrado na caverna.

eu não saberia o que fazer. fiz uma torta. senta-se, faca afiada nas mãos, e talha um pedaço que tira e come sem sabor. está deliciosa. ela está apta para isso, para sentir as delícias, mas não em condições de saboreá-las. escondeu as fotos de família no mais fundo e lembra delas, proibindo-se de acessá-las. e agora, o que eu faço? lava a louça, guarda a torta. e põe os pés pra fora. do batente, da porta.

não me arranquei dos meus passos. sigo caminhando.

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