19.11.09

notícias de itaipu

"Se a gente tivesse uma arma. É só atirar na cabeça do zumbi que ele morre."

O menino escutava o chefe em silêncio. Que mais poderia fazer? Os outros estavam dormindo, tinha acabado de comer carne humana. Carne humana! Chorar não adiantava. O chefe continuou falando:

"A gente pegava um rifle e PÁÁ!! na cabeça do filhadaputa. Explode o cérebro dele! Sem cérebro ele morre, já era."

Se o menino pudesse escolher / agora ele ia deixar o outro falando sozinho, descia as escadas e ligava a televisão em algum canal besta e barulhento. O outro ia querer encher o saco dele e ele ia falar "Shhhhh, tou vendo tevê". Sentiu vontade de testar o interruptor de novo, mais uma vez, só pra ter certeza, quem sabe se. "Sem cérebro ele morre"...

"Mas eles já não estão mortos?"

O chefe acordou do seu sorriso e gaguejou:

"É, não, eles estão mortosvivos, seu imbecil. Sem cérebro eles moooorrem de vez!"

"E como é que você sabe?"

O chefe se acomoda e enche o peito de triunfo: é o que acontece em todos os filmes de zumbi.

Uma voz corta o sussurro dos dois.

"E isso tem cara de filme pra você?!"

Os dois meninos se assustaram, suas costas pressionadas contra a parede. Na penumbra, as lentes do óculos do outro reluziam na direção deles. O de óculos saiu, então, da posição de ataque e voltou a sentar-se com a cabeça nos joelhos, abraçando as canelas com os bracinhos finos. Como se dormisse. O chefe ficou quieto, não disse mais nada até a manhã seguinte. O outro menino, olhando os contornos no escuro, nem percebeu o silêncio.

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